quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Coisas de Carol

Escrevi esse texto em 2005 para relatar a minha experiência e realizar minha Primeira Palestra na cidade de Maracaí na Obra Kolping.

Paraguaçu Paulista – 15/09/2005

COISAS DE CAROL

Começo lembrando da perua da escola SESI me buscando na porta do prédio onde eu morava em SP, era uma felicidade só (nisso eu tinha apenas três anos!)
Não sei ao certo, mas acredito que passava o dia todo na escola. Tinha muitos amiguinhos, lembro bem das gêmeas que não tinha uma das mãos...
“As professoras ficavam querendo colocar umas adaptações no meu braço, amarrando uma colher no meu braço...coisas assim... (aquilo sim era tortura!!!...) Eu gostava muito do quebra-cabeça colorido que tinha lá. Toda essa fase eu já usava próteses nas pernas e fazia caminhadas supervisionadas pelo fisio/fisiatra/protético.
Meu médico, um dos maiores especialistas em má-formação congênita o Dr. Buccollini era demais, usava uma barba branca e sempre me chamava de “pixuxa”, tinha um senso de humor incrível... O seu protético Pedro também era demais, sempre quando colocava a prótese nova como recompensa pelo meu esforço ganhava um chocoltate (pra mim aquele chocolate era o melhor, tinha gosto de sucesso!!) Minha mãe, inseparável, aguardava pacientemente todas as sessões de fisioterapia. As vezes eu sentia dores na caminhada, mas continuava até o médico dizer, “está bom por hoje”. (no fundo eu sabia que se não fizesse daquele jeito eu não poderia fazer muitas coisas, como dançar, por exemplo). Assim, foram quatro anos de Reabilitação em SP. (nunca senti nenhuma discriminação em relação a minha família)
Antes de mudar para o interior, ganhei minha primeira bicicleta (eu tinha quatro anos e lembro como se fosse ontem!)
Logo que chegamos em Paraguaçu Paulista, caí da bicicleta e quebrei o braço (senti uma dor horrível e a recuperação foi lenta e nem se fala o trabalho que eu dei...) recuperei do susto e alguns meses depois estava andando de bicicleta novamente! As ruas de Paraguaçu são planas e de fácil acesso, o que facilitou minhas andanças por toda cidade...
Não tive resistência na escola porque eu já sabia escrever quando entrei (aprendi em SP), nesse ano lembro da formatura e da confecção de roupas de papel e os instrumentos da festa. (O doutor que “consertou” meu braço me entregou o diploma-imagina minha cara nas fotos...)
Os professores sempre foram meus amigos, nunca liguei pra idade, se era jovem ou idoso, o papo era interessante eu tava no meio. Acho que por conta disso, sempre fui muito participativa na escola (arrumei muita confusão também-conflitos de idéias entende?! – nunca fui diminuída por conta da minha deficiência, sempre briguei defendendo meus pensamentos de igual pra igual... as vezes eu ganhava o reconhecimento, e chorava quando perdia...
Escrevendo esse texto lembrei de um dado importante... pra mim hoje. Na escola onde fiz o primário, participei do grêmio e na época conseguimos uma grade para guardar as bicicletas e ela está lá. E hoje em dia acabamos de aprovar na Câmara um convênio para liberação de recursos para reforma mesma escola... Agora vamos modernizar o local mais adequado para as bicicletas!!!!
Tenho profundo carinho por essa escola os professores que me acompanharam durante oito anos... Nessa época, fiz minha primeira “viagem sozinha” com meus amigos e não parei mais... (tomei gosto pela coisa...)
Sempre sonhei em conhecer Brasília – DF, adivinha pra onde eu fui quando completei 18 anos???!!!! Chamei minha amiga e estávamos nós: no Planalto Central na casa da “tia” Rose e do Paschoal (confesso que foi uma das melhores semanas que já passei fora de casa... apesar das 16h de viagem – por isso não conte que eu vá de ônibus até Fachinal dos Guedes!!!)
Estudei em Escolas Estaduais; no ginásio tudo correu bem, minha sala do terceiro ano era muito doida!! (Tinha de tudo: drogado, crente, casado, viado, lésbica com namorada e “professor aloprado...”). Deu pra perceber, o preconceito passava longe dalí, todos conviviam bem... os traumas da adolescência nem vi passar... (curti muito churrasco e cerveja) Freqüentei academia durante alguns anos (quando criança fiz jazz, na adolescência fiz musculação)
A música, o teatro, o desenho e o esporte sempre fizeram presente na minha vida.
Na cidade de Marília, fiz Serviço Social na UNIMAR. Tive uma boa classificação no Vestibular, que me ajudou muito no início... Consegui bolsa de estudos integral... Tenho profunda gratidão pelos professores Dr. Emídio Carrilho (in memoriam), Dra. Beatriz, Marília e Alaor B. Lora e pela Reitoria da Universidade que me acompanhou todo momento... Foram quatro anos viajando de ônibus todos os dias... Sempre arrumávamos motivos pra a festa no busão (mais conhecido como ônibus – transporte de passageiros)... Apelidamos o motorista de “Mestre Aguilera”... (até hoje, não lembro o primeiro nome dele), motivos não faltavam pra comemorar: quando não era o aniversário de algum estudante, era alguém que foi aprovado e por pouco não ficou pendurado em alguma matéria no final do semestre... mas voltando dentro do busão... Todos participavam da festa... como o percurso entre Paraguaçu e Marília era de uma hora, saíamos de lá depois das 23 horas, morrendo de fome... Pedíamos para o motorista amigo e companheiro nosso, adiantar a compra do lanche e dos refrigerantes para os bem comportados, porque a turma do fundão tinha sempre o “esquema pronto: às vezes faziam batidinha de vinho com leite condensado e as vezes tinha cervejada... com direito a som da última balada e iluminação de discoteca; bexigas coloridas espalhadas pelo ônibus e também parada obrigatória no meio da estrada para os mais apressadinhos irem ao “banheiro na moita”... mesmo assim continuávamos chegando tarde da noite em casa... Montamos até o DICIONÁRIO DO BESTEIROL 806 INTEGRAÇÃO... (integração era o nome da empresa de ônibus) o pessoal falava tanta besteira que escolhíamos sempre alguém pra tomar nota dos fatos e toda sexta-feira colocávamos a disposição no mural do busão, era muito engraçado...
Um tempo depois, passei um momento delicado, fiquei doente, as prótese machucavam minhas pernas e não conseguia andar direito... Mesmo assim perdi apenas algumas semanas de aula (antes eu andava dois quilômetros até chegar na minha sala... nunca liguei pra distância, o que mais incomodava era os dias frios e chuva, isso sem contar que fazia estágio no Hospital e andava o dia inteiro... eu estava em plena forma quando fiquei doente... ahaha) Nesse momento, tive um apoio incrível de todos mesmo, até do motorista que me pegava na porta da minha sala...
Concluir o curso, realmente não foi fácil... Ainda bem que deu tempo de curtir muita festa no busão e nos botecão na cidade universitária da UNIMAR... Sabe, eu nem participei da minha formatura, tinha muita mulher na minha sala...Ahaha... Tinha o único homem, ainda por cima religioso, nós o chamávamos de “bendito ao fruto” uma tradição do curso de Serviço Social de Marília... Em compensação, os meninos do curso de veterinária explicava a ida nos boteco de lá...
Em menos de seis meses após a conclusão do Curso, fui contratada por uma empresa como Telefonista PABX a COCAL (Comércio Industria Cannã Açúcar e Álcool LTDA).
Adquiri muito conhecimento experiência... aprendi como o mercado de trabalho é competitivo e difícil... Saía as 06h40 e voltava pra casa as 17h30 de segunda a sexta-feira. Meu pai tinha uma empresa de fotografia que por ironia do destino não deu certo, fechamos a loja e comecei a trabalhar para sustentar a casa... minha mãe desempregada e meu pai também (na época)
Nessa empresa recebi o convite pra ser Vereadora, aceitei e deu certo. Com primeiro mandato como membro da Mesa Diretora da Câmara, tenho um projeto aprovado (Acessibilidade para pessoas com deficiência) entre outros apresentados pela Mesa... fui Presidente da Comissão de Educação e Cultura e membro de várias outras... também fui membro do Secretariado Estadual de Vereadores do PSDB, e Coordenadora do núcleo Regional VIII do CEAPPD (Conselho Estadual para Assuntos relacionados a Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo) durante aproximadamente 4 anos.
E você ainda me pergunta quais são os planos para o futuro??!! Conseguir minha carteira de habilitação!!! (Já consegui!!!!)Entre outras coisas...
Carreira política são para aqueles que acreditam no impossível... Eu acredito em coisas reais e tenho fé em Jesus Cristo... Arrumar um bom namorado para agüentar as crises de TPM também ajuda... risos...
Em relação ao lazer, apenas digo que “não faço tudo o que gosto, mas amo tudo que faço...” Sigo aquele lema: “a vida é uma aventura alucinante da qual jamais sairemos vivos”.
Meus pensamentos são independentes sim... Minha vida não... Nós não vivemos em grupo na sociedade???!!!!
“É mais fácil desintegrar um átomo do que o preconceito” Albert Einstein